do jornal avante
por Pedro Campos
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A Costa Rica está na mesma região da América Latina onde se encontram o Panamá, El Salvador, Nicarágua e Honduras. Do Panamá sabemos – os que o sabem – que foi um território que os Estados Unidos roubaram à Colômbia para construir o Canal do mesmo nome. Dos outros três, ouvimos e lemos durante anos que andaram anos em guerra «por causa» de uns guerrilheiros ao serviço do «comunismo internacional», que não queria deixar aqueles países em paz… Da Costa Rica pouco ou nada se sabe, para além de que a governou durante anos um figurão «bem comportado» chamado Figueres e que agora passou por um processo eleitoral onde outro «bem comportado» – Oscar Arias, neste caso com Prémio Nobel da Paz debaixo do braço – passou o comando a uma senhora que vai continuar as mesmas políticas neoliberais cujos resultados devastadores já conhecemos bem. A Costa Rica aparece-nos, então, nos média como «país exemplo», uma espécie de Chile da América Central, salvando as distâncias do caso – entre elas a de que o Chile tem um exército prussiano ainda bem marcado pela herança pinochetista e a Costa Rica não tem soldados, o que não quer dizer que não tenha forças repressivas, claro está. Do Chile, laboratório onde os «rapazolas de Chicaco» ensaiaram, a sangue e fogo, as suas receitas económicas neoliberais, diz-nos (quase) toda a comunicação social que é exemplo a seguir. Quem ousar dizer o contrário, mesmo que seja com números na mão, é um desmancha-prazeres e leva com o pau na cabeça…nem sempre figuradamente. E a Costa Rica? Segundo a velha teoria do «quem cala, consente», o silêncio que a rodeia pareceria indicar que anda tudo no melhor dos mundos. Contudo, nunca faltam os tais desmancha-prazeres… mesmo dentro de casa! As autoridades de São José não são muito dadas a isso de fornecer dados sobre a situação socioeconómica do país, mas algumas dicas vão soltando de vez em quando, de forma um tanto sorrateira para que não se notem muito, porque sempre há quem esteja atento. Vejamos. O Instituto Nacional de Estatísticas e Censos publicou há poucas semanas uma série de números oficiais que mostram claramente que o país, como resultado das políticas económicas neoliberais, atravessa o seu pior momento dos últimos 30 anos. Números da desigualdade e da pobreza Uma maneira de não informar é não analisar adequadamente a realidade. Se tomarmos a pirâmide socioeconómica nacional, não é possível, por exemplo, discriminar a riqueza do 1% ou dos 5% das famílias mais ricas do país. Como só há cinco divisões, só podemos conhecer a riqueza de cada quinto! Mesmo assim as diferenças são gritantes e vemos então que os 20% mais ricos têm entradas que superaram 14,8 vezes as dos 20% mais pobres… e esta é a diferença mais alta dos últimos 25 anos! Imagine-se, então, qual será a desigualdade entre a cúpula desse primeiro quinto e a base da pirâmide… Mas o verdadeiro problema não é só o abismo entre o quinto mais opulento e o mais miserável. O fosso é igualmente cada vez mais marcado entre o primeiro e os intermédios… |