Fernando Amorim, uma vida dedicada a universidade

do site do Proifes sindicato

Trajetória sindical

Fernando Antônio Sampaio de Amorim ingressou no curso de engenharia naval da UFRJ nos idos de 1973, no auge da ditadura militar, então com quase vinte anos (ele completaria 59 anos em novembro próximo). Ao ingressar na UFRJ como professor em 1980, trouxe da militância estudantil sua condição de nunca esmorecer e estar sempre disposto a novas frentes de trabalho. Completou neste ano 32 anos de docência no ensino superior público, dos quais, boa parte a serviço do movimento sindical docente.

Com intensa militância sindical fez oposição em várias diretorias do ANDES, o que o fez a partir dos anos 2000 a iniciar a construção do novo movimento docente em torno do PROIFES.  Sua última participação para mudar o rumo que o movimento sindical em torno do ANDES assumiu, de agrupamento estreito e autoritário, foi em 2003, quando junto com outros professores organizou a chapa ANDES SIND, que venceu a eleição nas universidades federais por boa margem, isto é, mais de 1.500 votos (bem superior a 10% dos votos apurados nas entidades do sistema federal na época com pouco mais de 60.000 professores) e viu sua margem ser diminuída nas particulares (que são da base da CONTEE, mas que o ANDES insiste em representar, mesmo que na sua carta sindical essa base tenha sido retirada) e nas estaduais, perdendo a eleição com menos de 150 votos, em meio à acusação de fraudes e muita truculência. Depois disso, ele e os demais professores dessa chapa decidiram fundar o Fórum de Professores das Instituições Federais – PROIFES, para participarem da discussão sobre o projeto de reforma da educação superior no governo Lula, uma vez que o ANDES se negou a participar em deliberação congressual. Depois disso, o Fórum se tornou uma associação e mais tarde na Federação de Sindicatos de Professores Federais, onde Fernando Amorim era o presidente do PROIFES-Sindicato e vice-presidente da Federação de Sindicatos de Professores Federais.

Militância comunista

Sua intensa militância o fez ingressar ainda estudante no antigo PCB, em 1973. Faria no próximo ano, 40 anos de militância comunista. Divergindo intensamente dos rumos equivocados que o seu velho Partidão havia tomado, fazendo oposição ao governo do presidente Lula em seu primeiro mandato, Fernando Amorim, decide se filiar ao PCdoB, em 1 de junho de 2003, junto com outros egressos do PCB do Rio de Janeiro. Fernando integrava o Comitê Municipal do PCdoB na cidade do Rio de Janeiro.  No momento estava pleiteando que o PCdoB averbasse na sua ficha de filiação seu tempo de militância no antigo partidão, pois gostaria de completar os 40 anos de comunista em 2013, confidenciou aos amigos e colegas.

Nos últimos meses, Fernando Amorim, estava submetido a uma intensa pressão. Se por um lado não atuava na linha de frente na negociação com o governo federal, sua condição de vice-presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Professores Federais, o colocava em evidência, particularmente no Rio de Janeiro, onde combatia os rumos que determinados agrupamentos políticos assumiram na universidade. Teve destacada participação na decisão da UFRJ de abolir o vestibular e adotar o ENEM como mecanismo de ingresso, medida que lhe custou a ira dos agrupamentos que se declaram “combativos”.

Escreveu diversos artigos nos seus últimos dias de vida. Chamava a greve dos professores federais de “greve do fim do mundo”. Afirmava que qualquer que fosse a proposta que o governo fizesse, mesmo atendendo todas ou quase todas as reivindicações dos professores como aliás o fez com a última proposta – a greve seguiria até a morte. Até porque a greve é para desgastar o governo da presidente Dilma e não para atender as reivindicações justas e legitimas dos docentes.

A morte na semana retrasada do professor Aloísio Teixeira, seu companheiro na UFRJ e ex-reitor da Universidade o abalou profundamente.  Tinha uma relação muito próxima com o ex-reitor e colaborou intensamente com sua gestão.

Fernando Amorim Acadêmico

Fernando conseguia como poucos conciliar militância política, sindical e partidária e ao mesmo tempo, manter uma elevada contribuição à universidade, seja na forma de produção científica, projetos de extensão, orientação alunos, etc. Sem deixar de lado sua militância comunista, Fernando Amorim, em 1985 já tinha sido vice-reitor de Patrimônio e Finanças da UFRJ na gestão do professor Horácio Macedo. Foi nessa gestão que se tornou presidente do Fórum de Pró-Reitores de Planejamento e Administração – FORPLAD da recém criada ANDIFES.

Sua produção acadêmica na área de sua especialidade – engenharia naval – consta 35 trabalhos científicos publicados em periódicos indexados no Brasil e no exterior, além de capítulos em livros. Ajudou a formar diversos mestres e doutores em sua área. São dezenas de informes e comunicações em congressos científicos da engenharia naval aqui e fora do Brasil.

Na atualidade, Fernando participava de uma rede de Capacitação Técnica para o Desenvolvimento da Construção Naval no Rio de Janeiro, da qual sempre foi um entusiasta e enaltecia a importância do apoio recebido por esta área a partir dos governos Lula e Dilma. Participou ativamente da criação dos Núcleos de Pesquisa Aplicada em Pesca e Aquicultura – NUPA, ligados a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica – SETEC, que tem o objetivo de criar uma rede de cursos técnicos em pesca e aquicultura dos Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia, do Ministério da Educação.

Combinando o seu saber técnico e científico e sua militância, Fernando era professor do Colégio Municipal de Pescadores da cidade de Macaé. Foi um entusiasta do Colégio Politécnico da UFRJ em Cabo Frio, que integrava as ações da UFRJ Mar, onde ministrava aulas. Essas suas tarefas em Macaé e Cabo Frio, além de Paraty, onde pretendia reativar o projeto do Colégio Politécnico o ocupava em constantes viagens.

Fernando Amorim estava envolvido num grande projeto de sua paixão, que era o mar e suas embarcações. Estava organizando a criação, na Ilha do Fundão, de um Museu da Ciência e da Cultura do Mar, junto ao Pólo Náutico da UFRJ.  Ao mesmo tempo um museu que contava a história das embarcações e das navegações do ponto de vista científico, resgatava o que ele chamava de “cultura do mar”.

“Fernandão” também estava entusiasmado com outro projeto estratégico, que levava o nome de “Embarcações com Propulsão Elétrica Alimentada por Painéis Solares”. O projeto visava dar autonomia as embarcações, eliminando sua dependência de combustível fóssil e garantiria a elas ampla autonomia energética. Conhecia como poucos os avanços ocorridos na área de energia alternativa e testemunhou o impressionante avanço que os chineses tiveram nessa área, em detrimento do Brasil, para sua decepção.

Fernando ficará em nossas memórias e nossas lembranças. No dia 25 de julho ao participar da avaliação da proposta do governo junto ao Conselho Deliberativo da Federação PROIFES, particularmente, quanto a proposta de trazer para dentro da carreira do magistério superior, o cargo isolado de professor titular, disse que era uma reparação a perseguição sofrida por vários professores que nunca conseguiram chegar ao cargo de titular por causa das suas posições políticas. Fernando dizia que da sua geração que ingressara na universidade nos anos de 1980 era um dos únicos remanescentes e que poderia chegar lá com essa proposta. Ele se preparava para passar a Associado IV, e pela nova regra, depois de dois anos poderia ascender a titular. Sua morte prematura interrompeu esse processo.

Suas análises de conjuntura sempre terminavam com a expressão “é vida que segue”, companheiros. Fernando nós vamos seguir, mas será muito difícil sem você.

Fernando Amorim, quando participou em março da apresentação do novo Secretário de Relações do Trabalho, Sérgio Mendonça, acompanhado do presidente do PROIFES, Eduardo Rolim.

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